O levantador de minas
22.3.06
  Breve antoloxía da poesía galega de 90: Pedro Casteleiro (VI)
PEDRO CASTELEIRO. Coruña, 1968.

Inmediatamente se nos mostra o carácter visionario destes poemas, perceptivo se se quixer, como primeira fase que visa desembocar nunha vontade gnóstica. Partindo dunha grande atención aos sucesos do mundo, ao decorrer da vida, téntase unha manobra posterior de interpretación. Procúrase, a partir da experiencia sentimental, a hermenéutica da existencia. Sen embargo, o resultado desta busca de sentido só pode ficar plasmado poeticamente, do mesmo modo que os grandes misterios só poden ser expresados através do paradoxo.
O ritmo dos versos compatibilízase habilmente coa inserción das imaxes poéticas, ora rematado na liña ora mostrando un uso eficaz do encabalgamento. Canto ao imaxinario, preséntase unha metafísica do amor e da existencia, con certeza complementares, en que as realidades se atravesan de modo a conformar a malla do que existe. A postura que o poeta propón é clara: debemos procurar o noso lugar, descubrir o noso destino, xa que a «nossa vida se consume e nos exige a suprema atenção e a intenção suprema».


Do libro colectivo Sete poetas

p. 31
Voar contigo coroada de blasfémia
sob a Lua pálida dos dias de metal

Babilónia, amarás as tragédias que te medren
na pele. Um odor que golpeia deterá tua mão

Mais do que o céu cobriço meu fastio cresce
face as regiões onduladas além das impotências

Humana é a dor e o cravo que ma causa
e eu sou um anjo que se esmigalha

Uno que há-de reinar na múltipla condena
irremissivelmente cair sobre mim mesmo dentro

Assentado na espiral que me povoa

p. 32
Escuita o sotaque do tempo,
o tempo
é estrangeiro.
O boato dos corpos que
ultrapassa,
a pele do tempo

O tempo não tem carne nem
o tempo tem ossos, apenas o tempo tem a pele
em que envolve o silêncio
gris
dos dedos que trespassa.
O tempo é estrangeiro.
É o estrangeiro que me habita.

Entra por mim dentro
e me reduz
ao minuto em que me escrevo
Me conduz
me confronta de noite com a estrada e a chuva
Me retorce as mãos com a fúria do silêncio
Perpassa-me o corpo e me procura.


De O círculo escarlate

p. 6
Os meninos riem na rua dos sonhos
sou eu quem tem a bandeira
em que estão pintados seus risos.
Há unha música de marés e prantos
mas unha música alegre. Vem com comidas
de gordas mulheres negras, mulheres apartadas
ardendo.

p. 21
Surgem as cousas de haver tanto silêncio.

Para escrever este poema tivem que abrir
as portas mágicas do álcool corporal,
entrárom os dias à maneira de música.

Eu não sei quem sou por isso bebo.
A fúria polos caminhos da espada e o Sol.
A noite aberta livre liberta
sob tantas bocas murchas sob
as igrejas da gorja.

p. 23
Decorrer as horas pola forma
especial de cada corpo. Atravessar
um oceano de dias numa barca
saudosa. Onde o amor, onde a aventura
impossível do naufrágio?

Lá onde a beleza infinita do suicídio
declina polas ladeiras
da alma.

p. 27
Houvo um tempo em que podíamos obter
a criatividade usando um saca-rolhas.
Era o tempo em que guardávamos os rebanhos.
E agora eu sozinho talvez
sem povo
enfrento a tarefa de começar
de novo a existir.
Persistir, ao longo dunha certa tristeza
que há muito tempo venho ignorando: unha tristeza
que não emana de mim mas que me banha.

Não permaneçamos mais tempo dentro dos círculos
porque são o território em que morremos
definitivamente. Cruzemos os campos
atestados de flores, concederemos as licenças
de entrar em qualquer vício
e abandoná-lo logo, á medida em que a
nossa vida se consume
e nos exige a suprema atenção
e a intenção suprema.

Penetremos onde as pirâmides invertidas, provemos
o sabor do lume nos ásperos lábios, cantemos
com um suave licor deslizando-nos das bocas. As horas
são próximas, a grande ama escura se impacienta,
é o momento de comer escaravelhos
e esmeraldas. Subir ao monte Tabor
e aguardar o dilúvio. Consumir-se
negramente, entre o verdume das águas
e as árvores dispersas.
 
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